Um evento social

Relacionamento humano vicia. Na quarta série, quando eu era vítima de bulling na escola, me contentava em ficar atrás da porta ou ao lado da roda escutando a conversa dos outros sem entender o assunto, pois, a felicidade deles alegrava o meu dia. Hoje, quando o bulling acabou, eu quero entender o que as pessoas falam, ser querida e ser convidada para as festas deles, é um pouco pedir demais. Não é?
Descobri isso durante a aula, quando escutei Dorati, uma das minhas melhores amigas, distribuindo algum tipo de convite. Ouvir a conversa dos outros é um hábito difícil de largar, não pude evitar, era o aniversário do Pedro, um... Amigo muito querido. Não fui convidada, fiquei triste, depois brava, depois triste novamente, não muito, apenas pensando "maspoxavida!"
Enquanto isso, do outro lado da cortina de ferro estudantil, ou seja, na sala de estudos da turma avançada, uma linda garota acaba de perceber o meu convite perdido no fundo de sua mochila, "essa não! Esqueci de entregar para a Dorati!" pensa ela.
Mais tarde já em casa, recebi a notícia de outra festa de aniversário, dessa vez da minha prima em São Paulo; a prima que casou agora, não a que casou recentemente, nem a esportista, a médica e não a nutricionista, nem a massagista. Ah! Tenho primas demais! A essa altura eu já estava na fase da negação "eu nem queria ir naquela festa mesmo" pensava "vou na da minha prima".
A linda garota sempre teve boas intenções, ela até tentou me entregar o convite, mas como eu disse, numa mesma escola existe uma cortina de ferro entre os que usam uniforme, nós, e os que não, a turma avançada e o cursinho. O único momento onde nos encontramos é no portão vazado da garagem onde eu quase nunca vou e portanto não a vi. Foi apenas no dia anterior ao da festa na hora da saída que ela teve a brilhante ideia de pedir à Dorati que me convidasse, sem convite mesmo. Eis o que a Dorati disse:
-Elisa, a fulana mandou eu te convidar para a festa do Pedro amanhã ta bom? ta bom! até lá!
E foi embora me deixando com aquela cara de "hã? por quê? o que eu fiz?!". Minha paranóia me fez entender que ela, a Dorati, não queria que eu fosse e por isso deixou para me convidar na ultima hora.
Como eu disse, quero ser querida, ser convidada para as festas, mas entender o que as pessoas falam já é pedir demais!